No mundo corporativo contemporâneo, mulheres capacitadas e talentosas continuam a enfrentar um problema antigo e, muitas vezes, jogado para debaixo do tapete: o assédio no ambiente de trabalho. Por trás desse comportamento estão a discriminação de gênero, o machismo arraigado e a misoginia enraizada na sociedade. Nesta matéria, vamos explorar mais profundamente esses fatores e examinar como eles contribuem para a diminuição sistemática das mulheres no ambiente de trabalho.
Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Patrícia Galvão, 76% das mulheres brasileiras já foram vítimas de violência, perseguição, constrangimento ou assédio no trabalho. Entre os homens, 15% afirmaram ter passado por situações similares.
Um fator fundamental que alimenta o bullying nos ambientes de trabalho é a discriminação de gênero. Mesmo com conquistas significativas em termos de direitos das mulheres, é comum nos depararmos com diversas formas de preconceitos enraizados e atitudes e comportamentos machistas no mundo corporativo. Isso resulta em tratamento diferenciado, segregação de funções, salários desiguais e falta de oportunidades de progressão na carreira para as mulheres.
“A política é um campo de trabalho muito duro para nós mulheres. Sempre fui vítima de comentários machistas, de pessoas que queriam diminuir minha luta, mas foi na campanha para governadora de Pernambuco, que disputei grávida da minha terceira filha, onde mais senti o bullying com minha aparência, com as transformações do meu corpo. Não pouparam sequer o momento mais sensível para uma mulher”, desabafa a líder política Marília Arraes.
A misoginia, entendida como ódio, desprezo e aversão às mulheres, também desempenha um papel significativo no bullying corporativo. A misoginia se manifesta através de comentários depreciativos, assédio sexual, subestimação constante das habilidades e conhecimentos das mulheres e falta de reconhecimento de suas contribuições significativas. Essa hostilidade, baseada no gênero, mina a saúde psicológica e a autoconfiança das mulheres no ambiente de trabalho.
“Numa antiga empresa, fui vítima de bullying por parte de um supervisor justamente por ser a única mulher a trabalhar no cargo em que ocupava naquele setor e isso acabou custando o meu desligamento. À época, mesmo com as câmeras e podendo provar que eu estava certa, ainda assim, as intrigas eram constantes, então preferi pedir demissão, afinal, minha saúde mental é muito mais importante”, nos conta Mariene Ramalho, hoteleira.
O ambiente de trabalho reproduz o que as mulheres vivenciam em seu cotidiano e de acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva, são frequentes os casos de assédio sexual. De acordo com o Instituto, 36% das mulheres já relataram serem alvos de comentários constrangedores sobre seu aspecto físico e 39% receberam convites para sair ou insinuações inadequadas, contra 9% e 8% dos homens, respectivamente.
Nunca é o tiozinho da chefia, é sempre o tiozinho do portão, da cantina, a tia da copa, da limpeza… Muitas vezes o bullying vem acompanhado de preconceito.
Comenta a gestora pública e secretária estadual do Solidariedade Mulher (SP), Loreny Caetano
Uma pesquisa conduzida pelo movimento Potências Negras, apresentou dados alarmantes sobre a discriminação em processos seletivos. 63% das mulheres negras afirmam terem sido vítimas de racismo na busca de emprego. Ainda mais preocupante, 62% dessas mulheres relataram terem sentido essa discriminação em mais de uma ocasião.
Romper com essas barreiras requer uma abordagem multifacetada que envolve a educação, a conscientização, políticas e práticas inclusivas. À medida que avançamos em direção a ambientes corporativos mais equitativos e respeitosos, devemos lembrar que todos têm um papel a desempenhar na promoção da igualdade de gênero e no combate ao abuso no ambiente de trabalho. E é isso que fazemos diariamente no Solidariedade Mulher, lutamos contra o preconceito, o machismo, empoderamos e qualificamos mulheres para que possam participar da política e do mercado de trabalho cada vez mais qualificadas.